Muita gente acha chique e glamouroso morar fora do Brasil. Muitos acham uma benção viver longe da violência e do caos que está o nosso país.
Claro, aqui onde estamos, em Madri, Espanha, tem coisas que são melhores. A segurança, o preço dos colégios bilíngues, a saúde pública que funciona e o transporte também.
Mas o que muita gente não se dá conta é a quantidade de coisas maravilhosas que tem no Brasil e que fazem falta, e muita!
Aqui a variedade de frutas e legumes é bem restrita. Certo dia vi à venda UM maracujá azedo por dois euros. E, apesar de estarmos perto de uma série de países que produzem queijo, achei UMA bolinha muçarela de búfala a venda também por dois euros.
Faz falta falar nosso idioma. De não ter que pensar ou traduzir para falar.
Fazem falta os amigos que restaram. Sim, porque muitos acabam se afastando, já que a distância é cruel e o fuso também. São poucos os amigos que te ligam por WhatsApp, que perguntam como você está ou que simplesmente querem marcar presença em uma vida já não tão próxima. Todos seguem suas vidas e o sentimento que fica é de que fomos esquecidos, deixados, apesar de todas as juras de manter contato que foram ditas na nossa partida.
Bala de banana, paçoca, polenta, feijoada, carne seca, carambola, pipoca doce, mandioquinha, pastel, pizza calabresa e portuguesa, catupiry, água de coco, groselha, e tantas outras coisas mais... Não tem. Ou, se tem, custa caro.
Ficamos longe da família e perdemos acontecimentos importantes na vida das pessoas queridas: casamentos, nascimentos, falecimentos, namoros, separações. Eles também perdem, em alguns casos, com dois filhos, o crescimento e o desenvolvimento das crianças, os aniversários, os primeiros passos, o primeiro engatinhar, as primeiras palavras...
Não tem comida da vovó, não tem o abraço de pai e mãe. Não tem bolo da sogra e nem jogo do seu time na televisão. Suco natural é uma raridade: tem de laranja e olhe lá!
Fora a dificuldade com o clima. Em pleno novembro e já começa a fazer 3 graus de manhã, imaginem em janeiro. E não pensem que por vir de uma país tropical estamos acostumados com o calor. Os 42 graus que fazem, na sombra, aqui durante o verão que é extremamente quente, é incomparável.
Tudo isso vem com a decisão de morar fora. Por mais pensada que a decisão seja, é necessário superar algumas barreiras que aparecem pelo caminho. O idioma, fazer novas amizades e começar tudo do praticamente do zero. Claro que há as vantagens: conhecer lugares novos, comida diferente, conhecer outra cultura, a história do mundo e visitar lindos lugares que só alguns privilegiados podem, ou seja, aproveitar para curtir ao máximo aquilo que a vida apresenta.