Supermercado
Odeio ir ao supermercado. Não gosto e não tenho "talento." Digamos que todas as vezes em que vou, compro as coisas da lista e mais um outro monte que deu vontade naquela hora (ir ao supermercado com fome, grande erro—quem nunca?). E nem paro para ouvir reclamação porque, afinal, se não gosto mas tenho que ir, que pelo menos seja entretido para mim.
Existe toda uma classe diferente de casal. Aqueles que fazem compras juntos. Decidem tudo nos mínimos detalhes. Vemos aqueles casais felizes de mãos dadas, levando o carrinho e escolhendo entre o vinho francês de uvas selecionadas por monges eremitas ou o argentino com aroma de madeira e com gosto de frutas da safra do melhor ano para a colheita. E as discussões sobre qual o melhor arroz para o risoto de salmão: o de jasmin ou o curto? E eu lá, olhando aquilo tudo e achando que todo arroz é igual e o que muda é ele ser mais soltinho ou mais grudado.
Acho que esses casais possuem um outro nível de civilidade. Os brócolis são sempre frescos, nunca congelados. A caixa de leite é carregada pelo mais forte e colocada gentilmente no carrinho. O gosto do sorvete é meticulosamente selecionado para agradar a ambos os paladares. Tudo feito à base da democracia e da conversa, com uma lista compartilhada e, às vezes, até entre gestos de carinho.
Aqui em casa, me encarrego de fazer a lista que fica em uma lousa na geladeira e fazer o inventário. Gosto daqueles casais que vão juntos, compram ingredientes pensando no menu do jantar romântico e sobre como eles vão cozinhar juntos (mais sobre isso em instantes). Realmente o amor no supermercado é lindo.
Agora, se nenhum dos dois gosta de fazer compras, sinto muito. O esquema é implementar um rodízio mesmo. Não tem escapatória. Para essas pessoas: eu sinto a sua dor. Se a tarefa for comprar um presente de aniversário nos grandes hipermercados da vida, eu vou. Mas comida e produtos para a casa? Ficar ali longos e tortuosos minutos decidindo qual tem mais ou menos açúcar, mais ou menos sódio? Tô fora.
E escolher frutas e verduras da gôndola, então? Existe coisa mais tediosa? Me lembro de ir ao sacolão, onde os preços eram mais em conta. Como pode existir gente que gosta de fazer isso? Para mim, é um mistério. Mas acho que os casais que mais têm minha admiração são aqueles que se dividem, vão um em cada loja e fazem comparativos de preços para escolher onde vão depois fazer a compra final. Juntos, é claro. Não. Jamais. Definitivamente não.
Quando vou ao supermercado com meu marido, me separo dele imediatamente, pois vou direto ao que "interessa". Nesse caso, como eu realmente não gosto supermercado (especialmente os cheios), faço parte daquele grupo de casais que encontram suas diferenças entres as compras. Quando volto com os braços cheios de coisas que possivelmente não estavam na lista, recebo uma cara feia e a pergunta: —para quê isso? Ou então , —ainda tem em casa. Mas a pior, para mim é —da última vez que você comprou, não comeu. Eu que tive que comer.
Ainda tem as outras famosas: “você não vai levar essa porcaria”, “para quê tanto” e “vou pegar outra que essa está amassada”. Não existe meio termo quando o assunto são casais em supermercado. Ou está escorrendo mel ou sangue.
Já presenciei casais discutindo e vi gente escolhendo o pão mais queimadinho ou mais branquinho. Já vi casal brigando sobre qual louça levar ou sobre as habilidades de condução de levar carrinhos um do outro. Esses dias, tive uma conversa mais ou menos assim:
—Amor, coloquei uma costela de cordeiro no carrinho.
—Quem vai fazer? — ele perguntou.
—Você, ué.
—Eu? Mas nunca fiz isso na vida.
—Ah, a gente aprende.
—Você quer dizer que eu aprendo, né?
—Claro.
—Não vou mais falar para você vir ao supermercado.
—Promete?
Ou seja, o supermercado pode ser um fator definidor no seu relacionamento. Se você levar em conta que os hábitos de compra vão decidir suas próximas refeições, arriscaria a dizer que é até relevante. Se você gosta de ir ao supermercado e de escolher, aconselho que não delegue. Afinal, nunca se sabe quando o jantar poderá ser algum palpite novo que seu par "teve vontade" naquele instante.