Qual o peso da cor cinza? Esse cinza que não se impõe, mas se insinua. Que paira no ar como neblina, se acumula nas esquinas dos dias comuns e se espalha pelo peito em manhãs sem urgência. O cinza da dúvida, do não saber, do que não terminou nem começou. A cor do talvez.
Nunca me dei conta do cinza até me perder nele. Um dia sem sol, outro sem respostas. E, de repente, tudo era névoa. Nem escuro, nem claro. Apenas um meio onde as certezas evaporam e os caminhos se bifurcam. O cinza dos dias em que não se sente nada, mas se sente tudo — ao mesmo tempo.
O cinza das nuvens baixas que parecem pesar mais que o céu. Que não choram, mas também não sorriem.
O cinza da fumaça do cigarro, tragada em silêncio, deixada no cinzeiro como resto de pensamento mal resolvido.
O cinza da cidade molhada, de concreto e cansaço, onde os passos ecoam sem pressa, sem rumo certo.
O cinza das cinzas do que um dia foi fogo. Do que ardeu, brilhou, queimou — e agora é só pó.
O cinza da incerteza
O cinza da pausa
O cinza do que resta
O cinza da confusão
O cinza do cansaço
O cinza da espera
Dizem que o cinza é neutro. Mas ele pesa. Ele carrega o que foi e o que ainda não é. O cinza é silêncio que não acalma, é transição sem destino. É a carta do tarô cigano que mostra dois caminhos, mas não diz qual seguir. É a cor dos momentos em que tudo fica em suspensão — e a gente também.
Seria impossível descrever todos os tons de cinza. Eles vivem no olhar distante, no céu antes da tempestade, no cabelo que vai perdendo cor com o tempo. Estão no meio da fumaça e no fundo da xícara de café esquecida na mesa. O cinza é presença discreta, quase imperceptível, mas insistente.
Para os antigos, cinza era luto em fase de transição. Nas ruínas, o cinza é sinal de que algo existiu. E mesmo quando tudo acaba, o cinza ainda fica.
Cinza...
Cinza...
Foi caminhando por entre ruas molhadas, respirando o ar úmido e denso de um fim de tarde sem definição, que percebi: o cinza não me pedia decisões. Ele apenas me dava tempo. Tempo para sentir sem julgar. Para aceitar o que não tem nome. Que ele continue sendo esse intervalo necessário entre as certezas; esse abrigo nublado onde posso simplesmente ser.