Um encontro inesperado, ou talvez esperado dentro da perfeição com a qual o universo foi criado. Como quando as águas do mar se encontram com as do rio, formando ondas gigantes que não deixam outra alternativa que não seja surfar em seu esplendor movido por adrenalina e fascinação por aquilo que a natureza insiste em apresentar. O rio deságua no mar ao mesmo tempo em que este tenta invadir o espaço sereno e tranquilo com o qual o primeiro segue seu rumo.
É como a fusão perfeita dos elementos, do yin e do yang em que o masculino e o feminino se complementam e se transformam, sendo um parte inseparável do outro e que sem o qual não existe plenitude ou existência. A sensação de infinito e de continuidade que ao mesmo tempo apresenta a dicotomia das diferenças e da oposição da realidade. Afinal, qual é o objetivo da vida se não achar aquilo que complementa, que preenche, que torna o vazio menos solitário pela plenitude que o preenchimento proporciona?
Mas falar em alma gêmea, encontro de opostos ou até mesmo de sensação de satisfação seria muito simples em um contexto no qual todos os caminhos levam ao mesmo destino. E por falar em destino, quem decidiu que teria que ser assim? Entre escolher o caminho entre montanhas íngremes ou seguir pela estrada plana e previsível, há sempre uma interseção onde a escolha se torna inevitável. O acaso pode ser apenas uma ilusão de um plano maior, ou talvez a essência da liberdade que nos permite escrever nossa própria história.
A percepção, nesse momento, se faz essencial, sendo réu, advogado, júri e juiz, tomando decisões com base naquilo que se pode ver, nas evidências. Entretanto, ao mesmo tempo guarda para si as impressões que sentem no coração, sem saber expressar ou mostrar que na dualidade da indecisão, ambos são elementos essenciais para compor aquilo que forma um ser. O ser que não sabe ser só, mas que ao mesmo tempo precisa ter a consciência de que somente será completo sentindo-se à vontade consigo mesmo.
E assim, no paradoxo entre encontrar o equilíbrio entre o si e o outro a vida segue a dança do desconhecido, oscilando entre o controle e a entrega, entre a expectativa e o inesperado. A dualidade da existência não é um erro ou um acaso, mas a essência da jornada humana. Afinal, talvez o segredo seja ser como as estrelas: astros em órbita, que brilham por si sós, mas cuja trajetória só faz sentido quando se encontram no infinito. E assim, entre ser e pertencer, completar e individualizar, entre fluir e permanecer, a existência encontra sua plenitude na companhia não somente do outro como também em si próprio.