Mamãe, brinca comigo?
Não tem frase que eu temo mais que essa. E não porque eu não goste de brincar com a minha filha, mas simplesmente porque eu não sei brincar do que ela quer.
Posso pintar as unhas, levar para andar de bicicleta, brincar de adivinhar, colorir, jogos de tabuleiro. Isso tudo posso, sei e gosto de fazer. Se me pede para ler um livro então, é uma felicidade sem fim. Mas não me peça para brincar de faz de conta. Não sei o que é isso. O que chega a ser tragicômico, já que quando eu era criança fazia isso, e muito bem, com minhas Barbies e Legos, conta minha mãe . Ela ainda diz que eu brincava demais e muito bem sozinha.
Quando a Valentina e o Thomas me pedem para brincar de qualquer coisa fico paralisada. Não sei desenrolar a brincadeira na base do "oi, tudo bem?" "Tudo bem e você?". Não tenho repertório para isso. Juro. Nem repertório nem paciência. E de cozinha de mentirinha? Geeeente. Não dou conta. Comer de mentira. Vamos brincar de cozinhar de verdade! Muito mais legal! (Mentira, odeio cozinhar, mas por ela eu abro uma exceção).
É feio e duro, muito duro admitir, mas se faz necessário. Quantas mães espalhadas por aí não sabem ou não gostam de fazer certas coisas com os filhos? E sofrem por isso. Porque eu sofro, de verdade. Volta aquela culpa de mãe. Ou melhor, volta não, porque ela nunca vai embora. Mas bate mais forte. Fico pensando na reação das pessoas, escandalizadas, porque eu não sei/não gosto de brincar disso com minha filha.
Enfim, não acredito que seja a única mãe do mundo que não sabe ou não gosta de brincar. É difícil, mas é mais difícil entender que isso é algo que "falta". Que me faz sentir "menos" mãe. E como faz!
Esses dias li em algum lugar que se seu filho está brincando em um parquinho e te chama para brincar com ele é porque ele te ama tanto que quer que você esteja feliz junto com ele. Faz sentido? Faz! Eu quero? Não!
E assim seguimos, vivendo a dualidade de ser mãe e ser individual. Agradando aos filhos e a sociedade, mas muito raramente a nós mesmas. Será que está certo? Assunto para a próxima terapia!