A depressão pós-parto é cruel, dolorosa e sofrida. Mas, principalmente, a depressão pós-parto é solitária.
Ela vai além do blues puerperal que muitas grávidas sentem devido à enxurrada de hormônios que aparecem durante a gravidez e desaparecem depois que nasce o bebê.
A tristeza, o choro, a incapacidade de segurar seu filho nos braços, de dar banho e até mesmo trocar uma fralda. Muitas vezes não temos vontade de nos levantar da cama. Choramos por tudo e por nada. Nos sentimos incapazes de viver. Literamente viver.
— Mas ele é o bem mais precioso da sua vida. Você tem que fazer tudo isso. Você tem que estar feliz. Seu filho tem saúde, e isso é o que importa, dizem muitos.
Pois bem. Ter que é diferente de ter vontade de que é diferente de ter a capacidade de. A incapacidade de fazer tarefas simples, ter pensamentos maliciosos — assim, terríveis e aterrorizantes —, sentir-se a pior mãe do mundo. Tudo isso acontece numa depressão pós-parto.
Chorar por ser incapaz de fazer seu filho dormir. Chorar por não se sentir apta para fazer nada. Chorar por achar que seu filho não te ama, mesmo sabendo que ele acabou de nascer e nem tem ideia do que seja isso ainda. Chorar por não sentir aquele momento mágico retratado nas novelas da Globo e nem estar vivendo naquela bolha de luz ilustrada nos livros.
Mas aprendi que é possível mudar. É possível reverter essa situação. Com a ajuda de muita terapia e remédios que não prejudicam a amamentação, é possível melhorar e se curar. As coisas podem, sim, voltar ao normal.
Não se culpe. Não se sinta só. Não se sinta desesperada. Conte com os amigos mais próximos. Converse com outras mães. Não sinta vergonha de expor seus sentimentos. Converse. Saia. Dê uma volta. Tire cinco minutos para você. Tome um banho longo. Vá fazer as unhas. Coma um chocolate. Afaste-se das pessoas que julgam e fazem comentários maldosos (que podem ser da sua própria família!).
No meu período mais tenso pude contar com uma amiga querida que vinha em casa aos sábados pra gente sair. Que alívio era voltar a ter uma rotina normal! Mas em seguida vinha a culpa. Nossa, como é presente a culpa na maternidade! A culpa de deixar o filho sozinho. A culpa de se sentir feliz por ter liberdade. A culpa por estar feliz. Gente, mas que culpa é essa que nasce? Por que nós culpamos tanto?
Contei também com o apoio de outra amiga, essa já mãe, que me disse que tudo o que eu estava sentindo era normal. Mas que precisava buscar ajuda. Que ia passar, mas que era essencial fazer um acompanhamento médico. O meu primeiro passo foi falar com a ginecologista, e depois voltar para a terapia e procurar um psiquiatra. Só de falar no assunto já me sentia ajudada.
Porém, junto com tudo isso vem o afastamento daqueles que se diziam amigos. Gente que tem outros problemas na vida que não ouvir os seus problemas e aquilo que eles julgam ser uma vida perfeita, porque não estão nela nem fazem questão de saber. Vem o julgamento da sociedade, da família, dos colegas. Vem a ansiedade. Vem o medo. Vem a vergonha.
Depressão pós-parto não é motivo de vergonha, muito menos para se sentir menos que outras pessoas, outras mães. Assim como eu passo, muitas já passaram e muitas ainda passarão. Precisamos, sim, quebrar o tabu que existe em torno desse assunto e parar de julgar as mães.
Eu ainda tive um agravante, que foi me mudar de país no meio de uma depressão pós-parto, pois meu marido havia sido transferido. E, com isso, além de tudo, um novo terapeuta, um novo psiquiatra e um novo ginecologista. Se por um lado me ajudou estar longe daqueles que estavam julgando e se sentindo no direito de opinar, por outro eu sentia muita falta da família e dos amigos mais próximos.
Os pensamentos maliciosos iam e voltavam. A insegurança de estar em outro país deixava a experiência mais forte. Eu pensava que não daria conta de cuidar da Valentina enquanto meu marido trabalhava e que tínhamos errado em tentar a sorte em outro país. Foi quase um ano de terapia para voltar ao “novo normal”. Demora, sim, demora. Mas, com a ajuda certa, passa.
Sendo assim, se você está passando por isso, aconselho a buscar ajuda. Ou, busque ajuda mesmo que você ache que não é tão grave, ou que somente tem alguns indícios. Um bom terapeuta. Um bom psiquiatra. Busque seus amigos de verdade. Busque até mesmo estranhos em grupos de redes sociais; sempre tem uma mãe acordada tão desesperada e privada de sono como você às quatro da manhã para conversar.
Mas o essencial, o imprescindível, é: cuide de você. Só você pode fazer isso.