Qual mãe nunca desejou ser 100%? Ser, ao mesmo tempo, 100% mãe, 100% profissional, 100% companheira, 100% amiga. Somos tantas coisas e, ao mesmo tempo, raramente somos 100% em tudo.
Acredito que, inevitavelmente, quando nos dedicamos a mais de uma coisa não conseguimos ser 100% nas outras. Quantas já não sofremos com o dilema de ter que ir trabalhar com filho doente ou abrir mão de um passeio com as amigas para ficar em casa e amamentar.
Algumas chegam a um equilíbrio com o qual estão contentes, apesar de eu acreditar que não são muitas. Acredito que não é preciso ser nem 100%, nem 10%. Mas a questão aqui não é quando a mãe está contente mas sim, quando a porcentagem que estamos preenchendo não é o suficiente.
Eu, Natália, não sei e não consigo ser mãe e dona de casa 100% do tempo. Admiro muito quem consegue, mas eu, particularmente, não consigo. Odeio trabalho de casa, tenho pavor de cozinhar. Ambas as minhas licenças maternidade foram um martírio. Me sentia horrível de não produzir, de não me sentir útil, apesar de obviamente ser útil para meus filhos, já que amamentei os dois.
Minha antiga psicóloga bateu na tecla várias vezes de que eu precisava desse tempo para estar com meus filhos, mas eu não conseguia. Simplesmente não era (e ainda não sou) capaz. Escrevi, inventei coisas para fazer, estudei. Só comecei a me sentir mais "normal" quando pude retomar algumas de minhas atividades. Quando voltei a trabalhar, então, parecia que um grande vazio dentro de mim tinha sido preenchido. Por que? Porque eu PRECISO trabalhar para me sentir completa.
Esse discurso, de que precisamos estar com nossos filhos, gera uma culpa imensa, pois 2nem todas estamos "criadas" para isso ou simplesmente não queremos. E tudo bem, sabe? Eu sinto falta de trabalhar, sinto falta de conversar com adultos, de estar sozinha. Apesar de amar demais, não sou o tipo da mãe que precisa ficar grudada nas crias todas as horas de todos os dias. Eu os amo muito mas, assim, gente, eu amo a mim também!
E, desculpe a quem discorda, mas amar a mim significa ter meu tempo para fazer as minhas coisas. Para contribuir com o que quer que seja para seja o que for. Não sou menos mãe por causa disso. Não sou menos mãe porque peço duas horas de um dia de 24 para estar comigo mesma. Muito menos porque eu sinto vontade de trabalhar ou escrever. Ou porque faço isso tudo com um filho no colo e outro agarrado no pescoço.
Posso estar sendo leviana, mas acredito que se eu não estou pelo menos com as minhas porcentagens divididas igualmente, o que resta não vai para a maternidade. Não, não. Vai para a frustração. Para a irritação. Eventualmente, para uma depressão. E não quero.
Não quero voltar a ter depressão e aprendi, ainda com essa mesma terapeuta, a me conhecer melhor e identificar os meus mecanismos de gatilho. Sei que se ficasse 100% sendo mãe, ia ficar 101% deprimida. Aí ia acabar não sendo nada. Me dá prazer fazer tudo isso. E, quando você sente prazer, você fica feliz - e o que a criança precisa? De pais felizes! Pais que se cuidam.
Não me culpo por continuar a escrever, lançar livros ou começar a administrar alguma coisa ou outra. Não! Sabem por quê? Porque estou feliz. Me sinto completa, apesar de exausta me sinto realizada, apesar de ainda não saber como consigo encaixar tudo o que eu faço em apenas 24 horas e ainda dormir o tanto que eu durmo.
E, querem saber, não sou menos mãe por isso. Me considero hoje uma ótima mãe, uma amiga atenciosa, uma filha presente e uma esposa companheira. Posso não ser 100% em tudo. Mas dou 100% de mim em tudo que faço. E isso, para mim, basta.